Lembra do tempo que o funk era restrito aos bailes das comunidades cariocas? Em que este movimento popular era, muito injustamente, atrelado à violência urbana, ao tráfico e à ação truculenta da polícia? Pois estes tempos, felizmente, passaram. O funk tornou-se popular. De verdade. Desceu o morro e tomou conta do asfalto de forma graciosa e natural, invadindo pistas de dança.
Mas, de forma inegável, podemos relacionar a transformação do funk de cultura marginal a vedete do mainstream a um emaranhado de relações que vem tomando conta das classes sociais no Brasil, basicamente por conta da progressiva diminuição de escala entre ricos e pobres. Com esta aproximação em cifras, se aproximam também as trocas de carga cultural, assim como se modelam as engrenagens da indústria do entretenimento, cada vez mais vidrada na chegada de novos consumidores á metade deste caminho entre a elite e a base da população. A nova classe média nunca foi tão atraente.
Naldo: conhece este nome? Pois este MC pode ser o símbolo desta transformação do funk, tanto em termos de ritmo como de conceito. Naldo não é o funkeiro clássico, concordam? Mas, de alguma forma, representa a chegada do estilo ao ponto mais alto (em termos de classe social) que o gênero poderia chegar. Com seu funk melody, Naldo foi o astro, esta semana, da boate Royal, em São Paulo, ponto de encontro da nata financeira da cidade, onde a classe A se sente em casa.
O funk melody, claro, não nasceu com Naldo. Mas, com ele, vem ratificar a ideia de que classes sociais se fundiram em uma realidade cultural que mescla influências. Há som mais popular do que Naldo faz? E há local menos popular do que uma boate como a Royal? Esta aparente incoerência é o que mais fascina...
O que, aos poucos, foi tomando as pistas nas caixas de som, agora, com aval da mídia (sempre, afinal de contas, este é um pré-requisito para qualquer aceitação que seja de ordem pública), invade o espaço da elite ao vivo e a cores.
Entrevista completa: http://m.jb.com.br/heloisa-tolipan/noticias/2012/10/06/ht-comenta-mc-naldo-e-o-poder-de-unir-todas-as-classes-sociais-no-mesmo-ritmo/
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